Minha Crítica ao Song-QI

A gastronomia chinesa é uma das mais ricas e diversificadas do mundo, refletindo a vasta extensão geográfica, as diferenças climáticas e as influências culturais ao longo dos séculos. Representar essa culinária de forma genuína é um desafio, em especial num mundo tão cheio de cópias, de arte kitsch, de mercadorias vazias que satisfazem apenas a um desejo de luxo e exclusividade de uma sociedade desconectada do real valor das coisas.

O próprio ambiente do local sugere sua desconexão com a cultura chinesa. Ao entrar no Song Qi, você é imediatamente bombardeado com um excesso de sofisticação forçada. Os interiores “elegantes e contemporâneos” parecem um compêndio de showroom de móveis caros com cara de bangalô tailandês. Tudo brilha na penumbra, nada reluz com autenticidade.

A comida não poderia senão refletir essa bricolagem inautêntica: pratos que deveriam entregar fúria, vigor, complexidade, como os dim sum, são vazios completos de sabor. Nada que lembre qualquer resquício da pungência que buscamos na comida chinesa. Em outros molhos, por exemplo, a canela domina todas as outras especiarias, ou na salada com sweet chilli, que é muito mais “sweet” do que “chilli”, o que torna tudo apenas muito doce.

O Pato Pequim é o grand finale de uma refeição desastrosa: a 420 reais, já demonstra visualmente as marcas do seu cansaço: é apático, depressivo, hospitalar. A carne é seca e insossa, a pele não é dourada. Os cortes irregulares da carne apenas indiciam o desleixo desrespeitoso em um preparo tão caro à China. Não me espantaria se a embaixada chinesa no Brasil notificasse o restaurante pela crise diplomática que esse preparo desencadeou.

Me abstenho de comentar a sobremesa porque ainda não entendi se aquilo é um sorvete de pistache, como diz o cardápio, ou se é um liquefeito molho lácteo não identificado escorrendo por uma cumbuca genérica.

O Song qi é uma memória vaga de uma cópia da cópia da cópia de algo que a culinária chinesa nunca tentou ser. É brega porque expressa uma plenitude sem conflitos, sem tensão, sem contrastes, sem realidade. Não é China, não é chique, não é luxo e não está sequer próximo de ser restaurante.

Avaliação: ruim.