Minha crítica ao Glouton
O Glouton tem comida pouco surpreendente. Os vinhos, todos brasileiros, são bem garimpados e, embora não sejam um espetáculo em si, funcionam na medida em que harmonizam bem com os pratos. O erro, porém, está na temperatura de serviço.
O Glouton tem comida pouco surpreendente. Os vinhos, todos brasileiros, são bem garimpados e, embora não sejam um espetáculo em si, funcionam na medida em que harmonizam bem com os pratos. O erro, porém, está na temperatura de serviço. Suponho que sejam basicamente retirados de um balde de gelo e imediatamente servidos. Não é possível sentir qualquer aroma a 1 ou 2 graus e o cliente tem que aguardar um bom tempo para que o líquido esquente na taça. Simplesmente errado.
Como pontos positivos, destaco o snack de cavaquinha com ikurá. Apesar de ligeiramente peixosa, a cavaquinha tinha boa textura. Temperada com limão e dill, notava-se uma deliberada intenção de frescor. O ikurá trazia uma importante salinidade marinha. Além dele, a sobremesa de queijo reblochon mineiro com mel também apresentava boa qualidade. O queijo tem bom corpo e teor de gordura, que era bem equilibrado pelo dulçor e pela acidez do mel. Um acerto.
Já o fígado de galinha mais parecia um folhado de frango gourmet. O bombom enrolado na folha de ouro era inexplicavelmente doce, uma espécie de ferrero rocher animálico. Já boa parte dos pratos, como o palmito (entrada) e o amuse bouche de coco, eram monumentos de texturas e verdadeiros nadas em sabor. Inexplicável como um mesmo prato pode ser tão cuidadoso em um aspecto e tão inexpressivo em outro.
Nesse sentido, o que mais me distancia do Glouton, como restaurante supostamente vanguardista, são algumas das escolhas mais cafonas que já vi em um restaurante, focadas em um formalismo estereotipado e um tecnicismo vazio, desprovido de sabor. Breguices como folha de ouro, unidas a uma série de técnicas datadas e simplesmente reproduzidas acriticamente como espuminhas, esferificação, servidas em louças que se parecem aerolitos e, pasmem, nitrogênio líquido para que se coma parecendo um “dragão” são das coisas mais medonhas que já vi em um restaurante, sobretudo um lugar supostamente vanguardista. Enquanto incitam clientes a produzirem uma trend de tiktok como se tivessem engolido um vape, erram o ponto de sal da leitoa. BH tem história na gastronomia. BH merece mais que isso.
Nota: 1/5
Preço: 400 reais o menu + 200 da harmonização.