Minha crítica ao Corrutela
Em tempos de falsos influenciadores, que recebem para falar bem de restaurantes questionáveis em publicidade não sinalizada, de rankings em que as relações públicas valem mais do que a comida, de uma mídia impressa cada vez mais miserável, tanto em sentido literal quanto figurado, de uma profusão de restaurantes “palestrinha”, com discursos gourmetizadores e enganosos, me convenço a cada dia que a crítica gastronômica nunca foi tão necessária.
Em tempos de falsos influenciadores, que recebem para falar bem de restaurantes questionáveis em publicidade não sinalizada, de rankings em que as relações públicas valem mais do que a comida, de uma mídia impressa cada vez mais miserável, tanto em sentido literal quanto figurado, de uma profusão de restaurantes “palestrinha”, com discursos gourmetizadores e enganosos, me convenço a cada dia que a crítica gastronômica nunca foi tão necessária. O público precisa de instrumental teórico para questionar essa miríade de discursos enganosos aos quais somos expostos diariamente.
É inegável que muitos restaurantes difundem conceitos de sustentabilidade, anunciam preocupações sociais, enaltecem a suposta valorização de pequenos produtores, mas utilizam tudo isso para esconder sua comida mediana com preços exorbitantes.
Porém, não havendo criticidade nesse aspecto, poderíamos recair inclusive na generalização oposta: achar que todos os lugares que têm sua filosofia e seus conceitos fazem um trabalho mediano, o que também é falso.
O Corrutela, que se notabilizou por discurso socioambiental, com composteira e energia solar, com canudo de metal e aproveitamento total do produto, seria um desses lugares que, à primeira vista, poderiam ser acusados de estar usando bandeiras justas para tirar o foco do que interessa: boa comida. Essa afirmação, no caso deles, não é apenas falsa, mas é também ignorante. Lá, foram capazes de sustentar seu discurso e suas práticas com uma comida de ótimo nível e com constância. O Corrutela é bem mais que um discurso.
Do ponto de vista dos sabores, é um restaurante corajoso. Mesmo quando erra, erra sempre para mais. Não há nenhuma atenuação acovardada para agradar ao paladar do comensal médio. São escolhas contundentes que, às vezes, pelo exagero, acabam fazendo um ingrediente se sobressair aos outros. É o caso do crudo de peixe, que é pouco percebido pela dominância do pimentão e de uma base adocicada. O sorvete de morango de sobremesa também merece ressalvas por sua estrutura quebradiça, embora tenha ótima concentração de sabor.
Apesar desses detalhes, o restaurante acerta muito mais do que erra.
Mas disso falamos na próxima parte…