Minha Crítica ao Cepa

Existem restaurantes difíceis de criticar. Você mastiga, engole, mastiga de novo, e segue esperando que algum defeito apareça para justificar o texto. Em outros, os defeitos são tão generosos que o desafio vira apenas escolher qual piada fazer primeiro. O Cepa é daqueles: entrega tanto, tão bem, que sobra pouco espaço para ironia.

4/6/20251 min read

Existem restaurantes difíceis de criticar. Você mastiga, engole, mastiga de novo, e segue esperando que algum defeito apareça para justificar o texto. Em outros, os defeitos são tão generosos que o desafio vira apenas escolher qual piada fazer primeiro. O Cepa é daqueles: entrega tanto, tão bem, que sobra pouco espaço para ironia.

Abrimos com o olho de boi cru, azeite e chantilly de wasabi. Três elementos gordurosos em teoria, mas que combinam lindamente na prática. O peixe vem no corte exato: grosso o bastante para ter mordida, fino o bastante para ceder. Azeite bom reforça a untuosidade. E o chantilly de wasabi é o tipo de coisa que, em outros lugares, viraria espuma caricata. Aqui, segura tudo com uma pungência fresca e leve.

O pastel de queijo com cebola caramelizada e vinagre de jerez (não fotografado, desculpa) traz a o peso intenso da fritura e a leveza ligeira da acidez. Não fosse um restinho de óleo embaixo, seria perfeito. Mas é o tipo de defeito que lembra que o prato é real.

A língua de boi é a melhor entrada quente que comi no Brasil. Macia, intensa. O molho de frango é rico e reconfortante, tem gosto de fundo de panela caramelizado. A hortelã não decora: ventila, traz frescor. Um prato que explica o restaurante inteiro.

Na sequência, dois peixes. A trilha, grelhada e servida com pil pil, tem gosto indisfarçável de camarão, deliciosa. O cherne é outra aula: malpassado, lascas úmidas, e um molho de cogumelos com profundidade terrosa e umami.

Depois, o Curraleiro. Carne intensa, vermelha, no ponto perfeito. Béarnaise na textura clássica, com bom equilíbrio entre gordura e acidez. Batata frita com crocância por fora, maciez por dentro, como deve ser.

É uma cozinha com precisão. Técnica, com sabor. E — mais raro — com senso de ridículo: não tenta te impressionar com apetrechos e penduricalhos, mas com ponto, execução e busca obsessiva pelo melhor ingrediente.

Quem acha o Cepa caro nunca pagou R$ 320 em um entediante risoto de frutos do mar no Gero. Fomos em seis, comemos muito, bebemos vinhos bem interessantes e gastamos R$ 450 por pessoa. É claro que é um restaurante de ocasião, não de dia-a-dia, mas que entrega centavo do que cobra.

Nota: 4/5